terça-feira, 10 de abril de 2012

Flauta transversal: características, partes e funcionamento

A flauta transversal (ou, para ser mais preciso, a flauta ocidental de concerto) um padrão de construção levou um bocado de tempo para ser alcançado. Tal padrão é, com pouca variação e raras tentativas de experimentação, utilizado pelas principais fábricas de flauta do mundo - ver a postagem referente à história da flauta presente neste blog. Nesta postagem, escreverei um pouco mais detalhadamente sobre as características, sobre as partes e sobre o funcionamento desse instrumento, o qual é o foco central deste blog. Tratarei mais diretamente da flauta transversal soprano, uma vez que ela é a mais comum dentre todas as flautas dessa família. Além do mais, o seu funcionamento e o nome dado às suas partes é o mesmo das demais flautas transversais (as flautas contralto, baixo e contrabaixo), não sendo necessárias explanações para todas elas individualmente.

Características

A flauta transversal soprano é, hoje, feita mais comumente de ligas metálicas tendo por metal base metais como o níquel, a prata, o ouro e até mesmo a platina. Há também flautas cujos corpo e bocal são feitos de madeira, mas as chaves e mecanismos permanecem sendo feitos de ligas metálicas.


Tanta variedade de materiais é justificada pela impressão que os músicos e instrumentistas têm de que o material do qual é feito o instrumento interfere na qualidade sonora do mesmo. Esse é um assunto muito polêmico: há os que concordam com isso e há os que argumentam que não é o material que faz diferença, mas sim detalhes de construção do instrumento.

As flautas transversais soprano tem dó por afinação base, mas, naturalmente, são capazes de produzir todas as notas da escala cromática. O seu alcance pode ultrapassar três oitavas, mas não é comum utilizarmos toda a extensão da flauta para tocar música.
 Acima, o alcance da flauta transversal soprano. Na primeira figura, a extensão está escrita em notação musical. As notas em tamanho maior mostram a extensão mais utilizada flauta, enquanto as de tamanho menor mostram outras notas que o instrumento também é capaz de produzir, mas não são muito utilizadas. Na segunda, é mostrado o teclado de um piano e quais notas do teclado a flauta é capaz de produzir (excetuando algumas das notas incomuns que são mostradas na primeira figura).

Partes

A flauta transversal é dividida em três partes principais, a saber: a cabeça ou bocal (o local onde se sopra); o corpo (a maior parte da flauta, onde estão a maioria das chaves e mecanismos); o pé (a porção final da flauta). Não há muita variação em relação ao corpo da flauta, mas o bocal e o pé possuem suas variantes.
 A flauta desmontada nas suas três partes, dentro de seu estojo. Chamo a atenção do leitor para o pé da flauta. Trata-se de um "pé em si", chamado assim pois ele possibilita a emissão de uma nota si grave. Se o leitor retornar à primeira imagem desta postagem, ele notará que quase todas as flautas ali presentes possuem pé em si, excetuando a terceira flauta de baixo para cima. Aquela tem um "pé em dó", fazendo com que a extensão da flauta se limite a um dó grave.
Acima, um bocal curvo. Ele é mais utilizado por crianças que estão começando a tocar flauta transversal. Graças à curvatura, a criança não precisa esticar tanto os braços para alcançar as chaves da flauta, podendo tocar em uma posição mais anatômica.

Diferente da maioria das flautas doces, os orifícios da flauta transversal não são fechados diretamente com os dedos do flautista: são fechados indiretamente através das chaves das quais o instrumento dispõe. O número de orifícios que há para serem abertos e fechados em uma flauta são mais numerosos que o número de dedos que utilizamos efetivamente para tocar. É graças a um sofisticado sistema de mecanismos que se torna possível tocar a flauta moderna: o acionamento de uma chave pode fazer com que uma outra chave que esteja fora do alcance dos dedos se abra ou se feche. As chaves da flauta podem ser de dois tipos:

Profissionais fazem uso, geralmente, de flautas com pé em si e com chaves abertas, mas isso não é uma regra absoluta.

 Acima estão os vários mecanismos e chaves da flauta desmontados e à mostra a partir de seu ângulo menos visível: o lado de baixo. As circunferências de cor amarelada chamam-se sapatilhas. Feitas de diversos materiais, elas são as responsáveis por vedar os orifícios da flauta.


O vídeo acima mostra um luthier trabalhando nos reparos de uma flauta. É um processo trabalhoso e que requer muito cuidado e atenção aos mínimos detalhes!

Funcionamento

A flauta transversal é, naturalmente, um instrumento de sopro, o que nos leva a uma conclusão bastante clara: necessita de ar para produzir som. Mas não é qualquer ar que fará soar uma flauta. É necessário um ar muito bem canalizado.





















A foto acima, à esquerda, mostra o perfil dos lábios de uma flautista soprando ar para dentro do orifício da embocadura da flauta. Como mostrado pela seta azul, o ar deve colidir contra a borda externa do orifício. Parte do ar entra na flauta; outra parte, escapa: é essa divisão que faz com que o ar dentro da flauta vibre e produza som. Na foto da direita, vemos a mesma situação, mas de um ângulo frontal. Repare no que há dentro da elipse azul: uma porção do metal da flauta embaçou. Isso se dá devido ao contato do ar que escapa da flauta (geralmente quente) com o metal (geralmente mais frio).

A produção de som em uma flauta doce se dá da mesma maneira. Entretanto, ela conta com um bico que faz o trabalho de canalizar o ar e direcioná-lo à aresta contra a qual ele deve colidir - a seta azul mostra o trajeto do ar. Na flauta transversal, a canalização do ar fica inteiramente por conta do flautista! Por isso tantos iniciantes  tendem a achar difícil a produção de som na flauta transversal.

Esse é o princípio básico da produção do som. A produção das diferentes notas musicais de dá através da combinação desse princípio com mais dois outros princípios básicos. O primeiro trata da combinação de orifícios abertos e fechados do corpo e do pé da flauta. Essas combinações são feitas por meio dos movimentos dos dedos - dedilhados! -, os quais acionam as chaves e os mecanismos que as abrem ou fecham. O número de combinações possíveis para a produção de notas com a qualidade sonora e a afinação desejadas, porém, não é suficiente para a emissão de todas as notas da extensão da flauta descrita alguns parágrafos acima. E aí que entra o último princípio básico: o formato dos lábios. O formato dos lábios causa uma pequena mudança na direção do ar soprado. Ele deve continuar colidindo contra a já mencionada aresta, mas, a depender da região da aresta contra a qual ele colidir, a nota emitida será diferente. Conseguir saber qual o formato exato dos lábios para produzir determinada nota requer muito estudo e refinamento técnico. Resumindo a ópera, então: 

A emissão de uma nota musical na flauta passa por três conceitos básicos:
1 - O colidir do ar soprado pelo flautista contra a aresta externa do orifício do bocal;
2 - O dedilhado empregado;
3 - O formato dos lábios do flautista ao soprar.

"O flautista sopra para dentro da flauta... 
E quem faz a música?
Não a flauta:
o flautista!"
Rumi

8 comentários:

  1. Olá, sempre tive muita vontade de aprender a tocar flauta, e agora surgiu a oportunidade. Daí, tentando entender um pouco mais sobre o funcionamento do instrumento, encontrei o seu blog, que alíás é ótimo, bem instrutivo. Queria te fazer uma pergunta, como sou iniciante, fiz apenas duas aulas, e ainda não tenho o instrumento, será que a flauta de madeira transversal pífaro em dó me ajudaria nesta primeira fase prática, antes do investimento em uma boa flauta tranversal?
    Obrigada.

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    1. Olá, Anônima!

      Sim, um pífano (também conhecido como "pífaro" ou até mesmo "pife") de madeira pode ajudar você a dar seus primeiros passos antes de começar a tocar uma flauta transversal. Com ele, você pode ir se habituando à embocadura necessária para tocar flauta, com a postura e também com a respiração. É claro que você precisará fazer algumas adaptações quando for migrar para a flauta transversal (o orifício da embocadura é maior, então a embocadura precisará ser um pouco diferente; a flauta transversal é maior e mais pesada, então você precisará dar mais ar e ter mais paciência com questões posturais), mas só de começar com o pífano você já terá uma noção boa.

      Eu comecei com a flauta doce. Toquei por aproximadamente 4 meses. Depois disso, fiquei sabendo de um cara que fazia flautas transversais de madeira bem simples aqui na minha cidade. Elas não eram bem afinadas e não tinham uma sonoridade muito boa, mas foi graças a isso que consegui desenvolver um pouco a minha embocadura antes de comprar uma flauta transversal.

      Espero ter ajudado!

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  2. Olá, meu nome é Jean
    Quero primeiramente lhe agradecer e parabenizar pelo site
    Sou flautista há 3 anos e sou estudante independente, o site tem me auxiliado bastante
    Eu tenho uma flauta que paguei cerca de 500 reais (tem bocal curvo também, como mostrado acima)... e tenho notado que estou limitado por causa dela
    Vi algumas flautas baratas e que dizem ser de boa qualidade, uma lista da marca Vênus e Júpiter (flautas de mil à dois mil reais)
    Além do meu interesse por uma flauta prata maciça, vazada com pé em si, meu sonho tem sido uma de ébano (vi algumas na internet por cerca de 4 mil reais, no momento tenho menos da metade mas eu poderia esperar para ter uma desta) mas estou receoso quanto à qualidade por não conhecer o instrumento (ouvi até que depois de alguns anos, ela começa a rachar)...
    Quanto à semi-novas, é muito arriscado comprar, ou seria um bom negócio? pois pelo mesmo preço de uma nova "não profissional", posso conseguir uma superior que está apenas desvalorizada pelo uso.
    No momento tenho menos de dois mil reais. Quero investir em um instrumento de qualidade mas não tenho dinheiro para comprar uma Yamaha que eu quero

    Tem alguns conselhos quanto à isto tudo?

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    1. Olá, Jean!
      Antes de mais nada, desculpe pela demora em responder. Espero que você ainda não tenha comprado sua flauta. Não recomendo as seguintes marcas: Vênus, Eagle e Weril. Também não ouço falar bem das flautas Michael. As flautas Júpiter têm um bom custo benefício! Mas talvez valha a pena você juntar dinheiro para comprar a flauta Yamaha que você deseja. Creio que seja mais vantajoso esperar um pouco e comprar um instrumento que vai servir para você por mais anos do que comprar um instrumento mediano agora, o qual você terá que trocar em breve. Sobre instrumentos de segunda mão: só recomendo comprar se você conhecer bem o vendedor e se você tiver segurança para testar o instrumento (ou conhecer alguém confiável que possa testar por você!). Espero ter ajudado!

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    2. Muito obrigado! ainda não comprei! Ajudou bastante! ^^

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  3. Olá, sabe me informar se a marca de flauta Vênus é boa?

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    1. Caro Anônimo,
      Nunca toquei em uma flauta Vênus, mas, infelizmente, não ouço falar muito bem dela. Muitos colegas não recomendam a marca nem mesmo para iniciantes. O mercado aqui no Brasil não oferece muitas opções, mas tente procurar pelas marcas Yamaha, Di Zhao, Nuvo e Jupiter. No momento, parecem-me ser as melhores marcas às quais temos acesso relativamente fácil.

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  4. Ola , bem é q eu toco flauta doce a 3 meses e me interesso a um tempo já pela Flauta Transversal, mas só vai dar para eu começar a fazer aula no ano q vem Minhas perguntas: A Flauta Transversal é um instrumento dificil? Que parte é mais dificil para o iniciante? E tambem exemplo quando eu for comprar a minha existem modelos diferentes? Se sim qual é melhor para o iniciantes?
    obg desdeja agradeço :)

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